Quase 80% das mulheres tiveram alterações na menstruação durante a pandemia
A pandemia trouxe diversas mudanças na vida das pessoas. Entre as mulheres, a irregularidade na menstruação foi uma delas. Um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) descobriu que 77% delas relataram alterações no ciclo menstrual durante a pandemia.
“O momento em que vivemos traz uma carga imensa de ansiedade e estresse, causando mudanças no número de dias do ciclo menstrual, número de dias de menstruação, fluxo menstrual, coloração e odor da menstruação, além de alterações na libido”, afirma a Dra. Fernanda Torras, ginecologista e obstetra.
De acordo com a especialista, quando o corpo é colocado sob pressão constante ou excessiva, ele secreta os hormônios do estresse: cortisol e adrenalina. “A adrenalina fornece energia, por exemplo, para correr diante de um perigo eminente. O cortisol aumenta a função cerebral e interrompe ou diminui as funções que o corpo não considera essenciais. Desse modo, ele sinaliza ao corpo para diminuir funções não vitais, como a reprodução, enquanto a adrenalina prepara-o para sobreviver ao estresse”, explica Fernanda Torras.
Dessa maneira, o estresse repentino ou prolongado pode ter grandes efeitos nos hormônios reprodutivos. Isto é, sendo uma maneira de “proteção e preservação“ do corpo em momentos de ansiedade intensa, tornando improvável que uma mulher engravide durante estes períodos.
Mas por que isso acontece?
Ainda de acordo com a ginecologista, o cortisol altera os padrões de secreção de um hormônio chamado GnRH. Dessa forma, há alterações na secreção de dois outros hormônios essenciais ao funcionamento ovariano e a ovulação: o luteinizante (LH) e o folículo estimulante (também conhecido como FSH).
“Quando os níveis de LH e FSH são baixos, os ovários podem não produzir estrogênio adequado para ocorrer a ovulação e, consequentemente, a menstruação, causando as alterações no ciclo menstrual. Essas alterações não resultam necessariamente na cessação total do ciclo menstrual, podendo levar desde o início do sangramento antes do esperado (ciclos mais curtos) até atrasos menstruais que duram meses”, conta Fernanda Torras.
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E quem toma anticoncepcional?
O atraso não acontece com quem faz uso de pílulas anticoncepcionais. “Isso porque elas fazem com que as mulheres tenham uma menstruação ‘artificial’, ou seja, a menstruação não acontece pelos hormônios naturais, mas pela ingestão de hormônios contidos na pílula (estrogênio e progesterona) e independe do funcionamento do ovário”.
Nenhum atraso na menstruação é normal
Mesmo as alterações menstruais causadas por estresse ou ansiedade não são normais. A ginecologista afirma que são situações que pedem avaliação. “Qualquer mulher com atraso menstrual que não utiliza nenhum contraceptivo, primeiramente deve excluir uma gestação. Excluída a gestação, aconselho a mulher a realizar registros dos ciclos menstruais e qualquer sintoma relacionado a ele, por três meses. Se o seu ciclo menstrual continuar anormal, procure avaliação médica. Se houver parada total da menstruação, vá ao especialista antes desse período”, recomenda Fernanda Torras.
Fonte: Dra. Fernanda Torras, ginecologista e obstetra, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), da SMB (Sociedade Brasileira de Mastologia) e da ABCGIN (Associação Brasileira de Cosmetoginecologia).